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Na quarta-feira, 11 de janeiro do corrente ano as Lojas Americanas (AMER3) foi protagonista de um escândalo que já está sendo chamado de o maior escândalo da história do mercado de capitais no Brasil. Um rombo bilionário foi identificado no balanço contábil, após a entrada do CEO Sérgio Rial na empresa há apenas 9 dias.
Após a descoberta de “inconsistências contábeis”, ou seja, um rombo de R$ 20 bilhões nos balanços corporativos da empresa, Rial renunciou ao cargo. E em apenas 24h as ações da empresa despencaram 77% no pregão do dia seguinte.
Mas o valor do rombo não para por aí. Segundo o experiente executivo a cifra poderá superar o dobro do valor inicial e ultrapassar os R$ 40 bilhões. Isso é extremamente preocupante porque antes mesmo do escândalo o valor de mercado da companhia não chegava a R$ 12 bilhões.
De acordo coma a análise interna contábil, o valor em questão estava sendo lançado de forma errada e segundo Rial, essas inconsistências vêm sendo contabilizadas dessa forma errada já há muitos anos.
As varejistas utilizam muito uma operação chamada risco sacado. Dessa maneira, a empresa contrata serviços bancários para antecipar as parcelas das dívidas aos fornecedores provenientes da compra de estoque.
Para explicar melhor, se a empresa fizesse uma compra de R$ 100 mil em brinquedos com uma proposta de pagamento desse valor parcelado em 6 meses, ela contratava a instituição bancária para efetuar o pagamento ao fornecedor em 60 dias, por exemplo.
Então o banco pagava diretamente ao fornecedor um valor mais baixo, devido a antecipação do pagamento, e a loja pagava ao banco o valor total da mercadoria no prazo acordado entre a empresa e a instituição bancária, ou seja, os R$ 100 mil.
O grande erro era que a varejista não estava contabilizando os R$ 100 mil como dívida e nem a diferença entre o valor da mercadoria e o valor adiantado que o banco pagava ao fornecedor, que deveria ser pago como despesa financeira. Isso afetou o patrimônio líquido da empresa e consequentemente o lucro.
Como o patrimônio liquido da empresa está totalmente descontrolado, os credores, principalmente os bancos, estão pedindo a antecipação do pagamento das faturas em aberto com medo de ficarem sem receber.
A empresa precisaria de um grande aporte financeiro para pagar os credores e quitar todos os débitos. Dessa forma, os fundadores e acionistas Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles anunciaram um aporte de R$ 6 bilhões no caixa da empresa. Porém, esse valor não cobre nem a metade do rombo.
Dessa maneira, a empresa teria que lançar mão de empréstimos bancários, se quiser organizar as contas. O problema é que não achará facilmente um banco que queira fazer empréstimos, com a situação do jeito que está.
A segunda alternativa seria a venda de ativos para levantar fundos, pois o grupo 3G Capital, controlador da marca, possui várias outras empresas em diversos segmentos, como indústria de bebidas, indústria de alimentos, restaurantes, varejo comercial e varejo eletrônico.
No entanto, o caminho mais provável é a recuperação judicial, devido ao volume da dívida e ao grande número de credores. Isso poderá ser inevitável, e dessa forma uma executiva que participou do processo de recuperação judicial da telefonia Oi, já foi contratada, o que reforça o rumo para essa terceira alternativa.
Do início do caos para cá, as Lojas Americanas vêm causando uma avalanche de problemas no mercado. O anuncio de corte no pagamento de juros das suas debêntures foi umas das decisões da empresa que tumultuou os personagens do setor.
Além disso, os fundos de créditos tiveram grandes perdas, bem como os fundos imobiliários (FIIs) de lajes corporativas, que possui salas alugadas à empresa. Também os fundos imobiliários de logística, que possui galpões alugados para estocar seus produtos. E ainda os fundos imobiliários de shoppings, que possuem unidades da empresa dentro de seus shoppings.
De acordo com a listagem da B3, atualmente existem mais de 10 FIIs que possui, de certa forma, algum tipo de correlação com as Lojas Americanas.
Para se ter uma ideia, quase 1/4 da área locável do GGRC11 (FII de galpões logísticos) está ocupada pelas Lojas Americanas. Consequentemente, caso ocorra o pior, esse FII será prejudicado, juntamente com seus cotistas, pois perderá 1/4 de sua receita com aluguéis.
Entretanto, os cotistas não devem se desesperar, pois os imóveis permanecerão lá, e mais cedo ou mais tarde serão ocupados por outro inquilino. O ponto negativo é que, a curto prazo os rendimentos mensais com aluguéis que esses cotistas recebem, irão diminuir até o imóvel voltar a ser ocupado.
Por fim, não se sabe o que pode acontecer daqui para frente. Devido a isso, fica a dúvida se a empresa será salva pelos sócios proprietários ou se ela irá a falência.